quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

SARNEY E OUTRAS MAZELAS POLÍTICAS



Por VICENTE GRIMBERG
Redação GeoFull

Eu não sei você. Mas eu desisti dos políticos. Dos políticos, não da política. Desisti porque eles não respeitam a população, nem a representam. Na verdade, representam apenas os seus próprios interesses e os dos seus. Disseminaram-se entre a classe política a utilização indevida do dinheiro público e as práticas desonestas e não éticas. E, exatamente por estarem tão disseminadas e impregnadas no caráter dos políticos, essas práticas erradas são encaradas com normalidade por eles. Muitos nem ao menos têm consciência da imoralidade dos atos que cometem. Vejamos algumas delas que, a meu ver, são estarrecedoras:

Em primeiro lugar, não poderia esquecer do imortal e nobre poeta, José Sarney. Na República dos Padrinhos, ele é rei. Indícios de contratação irregular de servidores para o quadro do Senado Federal não param de surgir. Familiares seus e de seus aliados foram contratados "às pencas" pelo Senado, grande parte por meio de atos secretos, uma leviandade que, em hipótese alguma, deveria ocorrer no setor público, pois fere o princípio da publicidade. Em seu próprio gabinete, foi descoberta uma funcionária fantasma, Gabriela Aragão Guimarães Mendes, estudante, nomeada em 05 de janeiro de 2007 e com frequência igual a zero no trabalho, porém recebendo seu salário mensalmente, religiosamente. O detalhe é que Gabriela é filha do ajudante de ordem de Sarney, Aluísio Mendes Filho.

Mas isso é pouco para o poeta. Sarney é acusado de desviar verba recebida da Petrobrás para uma entidade privada, cujo nome, curiosamente, é "Fundação José Sarney", dedicada a manter um memorial sobre a "fantástica" trajetória política do ex-presidente. O valor repassado a título de patrocínio? R$ 1,3 milhão.

E eu juntando moedinhas para pagar a passagem do ônibus.

Para completar, Sarney intercedeu em favor de seu neto, José Adriano Cordeiro Sarney, cuja empresa operava crédito consignado a servidores do Senado.

Aliás, nosso Congresso, como um todo, é uma grande piada. E de mau gosto. Sérgio Morais (PTB-RS) afirmou, publicamente, que está "lixando-se" para o povo. Isso vindo da boca de quem detém um cargo que deveria ser representativo da população é algo perturbador.

Depois, o escândalo da utilização das cotas de passagens aéreas dos deputados. Boa parte delas foi usada para levar filho, filha, mulher, amante e até papagaio para fazer turismo na europa ou nos esteites. Teve até assessor parlamentar negociando passagens junto a empresas de turismo, por um valor subfaturado. E tudo isso, meus senhores, com o nosso dinheiro.

Teve ainda, parlamentar recebendo auxílio-moradia, mesmo possuindo imóvel em Brasília. Aliás, pasmem só, um deles é o próprio José Sarney, que justificou-se dizendo que não percebeu que, todo mês, recebia mais de R$ 3.000,00 a título de auxílio-moradia, sendo que o valor vem discriminado em seu contra-cheque.

Sem contar no desvio de verba parlamentar, mensalinho, mensalão, tráfico de influências, conchavos, curral eleitoral, compra de votos...ufa! Nosso Congresso é mesmo uma farra.

No executivo a vergonha, ou melhor, a falta dela, é semelhante. Vamos dar uma olhadinha aqui para a ponta de baixo do Brasil, o Rio Grande do Sul. Mais de 40 milhões de reais foram desviados do DETRAN. Um esquema orquestrado por entes políticos do próprio governo, parlamentares aliados e, pasmem, envolvendo até mesmo um conselheiro do Tribunal de Contas (que havia sido nomeado politicamente). Sem contar no superfaturamento de obras públicas e, é claro, do famoso caixa-dois da campanha da Governadora, que, inclusive, comprou uma modesta casinha de, aproximadamente, R$ 1.000.000,00, logo após ter sido eleita.

E eu ainda contando as moedinhas para o ônibus. Putz.....cadê aqueles cinco centavos que eu tinha visto em algum lugar?

A Governadora foi indiciada pelo Ministério Público Federal e o caso não deu em nada, só para variar um pouco. Na Assembléia, deputados da oposição conseguiram implantar uma Comissão Parlamentar de Inquérito, que não resultou em muita coisa, pois a base governista impediu toda e qualquer tentativa de apuração de irregularidades e ocorrência de importantes oitivas. Ora. Se o governo que aí está tivesse mãos limpas não iria se opor a um processo investigativo. E vamos ser justos. O mesmo fez o Governo Federal quando tentou-se apurar irregularidades na Petrobrás.

Mas, junto a esse governo estadual, capitaneado pela senhora Yeda Rorato Crusius, implantou-se no Palácio Piratini uma verdadeira quadrilha, digna de causar inveja a Al Capone e seus capangas. No meio de tudo isso há desvio de dinheiro, caixa-dois, suborno e até mesmo mortes suspeitíssimas de possíveis delatores.


Semana passada a Governadora indicou e a Assembléia Legislativa referendou a nomeação do então deputado estadual Marco Peixoto (PP) como conselheiro do Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul. Até aí, fora o absurdo da nomeação política para o cargo, tudo estaria bem, não fosse por um pequeno detalhe: Marco Peixoto possui processos de improbidade contra si.

O Procurador-Geral do Ministério Público de Contas (MPC) do Rio Grande do Sul, Geraldo da Camino, ingressou com uma medida cautelar para suspender a posse do conselheiro Marco Peixoto no TCE, marcada para o dia 16 de dezembro. Da Camino alega que Peixoto não tem notório saber para exercer o cargo, além de estar envolvido em denúncias de favorecimento em concorrências públicas e de ser citado na Operação Rodin, que investiga o tal desvio superior a R$ 40 milhões no DETRAN gaúcho. Ele aparece em gravações com o empresário Antonio Dorneu Maciel, um dos operadores do sistema de corrupção, supostamente negociando propinas.

Peixoto teve o nome aprovado pelo plenário da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, ainda que, durante sabatina realizada há uma semana, não tenha sabido responder a perguntas técnicas feitas por parlamentares da oposição, que se opunham à indicação.

O parlamentar foi indicado para substituir João Luiz Vargas, ex-presidente do órgão, que pediu aposentadoria depois de também ter seu nome envolvido em denúncias de corrupção. Vargas é um dos oito réus citados no processo de improbidade administrativa movido pelo Ministério Público Federal.

No final da semana, a empresária Margot Elídia Peixoto, ex-mulher do irmão do deputado, disse que ela e o ex-marido eram "laranjas" do parlamentar na Marco Construções, que tem contratos com o governo. Pela Constituição estadual, nenhum parlamentar ou servidor público pode manter contratos com o poder público.

Na declaração à Receita Federal de 2006, Peixoto aponta a existência de uma renda de R$ 140 mil atribuída à Marco Construções. Há ainda contra o deputado uma ação de improbidade na Justiça de Santiago, na região central do Estado, onde Peixoto foi vereador e presidiu a Câmara Municipal.

Resultado: Marco Peixoto foi empossado no Tribunal de Contas no dia 16, ainda que não tenha notório saber jurídico e, como fica óbvio, reputação ilibada. Além disso, ganhou um benefício que deveria ser excluído do meio político e banido do sistema brasileiro, pois é uma mazela social: a imunidade inerente ao cargo que passou a ocupar no TCE-RS. De agora em diante, só poderá ser julgado pelo STF. Uma mãozinha da Yeda ao seu cumpadre, como presentinho de Natal.

Então eu pergunto, caro leitor: quem esse pessoal representa? a quem eles servem senão a si próprios e a seus interesses?

Por tudo isso e pelo que vimos diariamente, eu desisti dos políticos. Daqui para frente eu só votarei em branco. E não me venha com o papo de que votar em branco é o mesmo que votar naquele que eu não quero, de jeito algum, que se eleja, pois eu não quero que NENHUM deles seja eleito.

E o povo? Bem....o povo tem os políticos que merece. Nas próximas eleições eles vão reeleger Sarney, Collor, Sérgio Morais e boa parte da corja que está aí. O povo, além de tudo, é burro e vive envolto em uma idiotia deprimente. Enquanto assiste, passivamente, a atos de roubalheira generalizada no meio político, ele revolta-se, sai às ruas e degladia-se, porque seu time do coração foi rebaixado para a segunda divisão. O povo sabe, "de cabo a rabo" a escalação completa de seu time, mas não faz a mínima idéia em quem votou nas últimas eleições.

Dizem por aí que vivemos em um regime amplamente democrático. Mas, na verdade, como diz José Saramago, "nossa democracia resume-se em trocar maus políticos por outros, possivelmente, piores ainda. E não é nessa esfera em que as decisões ocorrem. O comando se dá por grandes corporações, órgãos financeiros (FMI, Banco Mundial, etc...), grandes especuladores e bancos centrais. E os dirigentes desses órgãos não são escolhidos nem por mim, nem por você. Nossa democracia é fictícia, irreal e amputada."

Alguém aí me empresta 5 centavos para fechar o valor da passagem do ônibus?

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