QUEM É
Diretor do Centro de Ciências da Terra da Universidade do Estado da Pensilvânia, nos EUA. Pesquisa o clima na Pré-História O QUE FAZ
Escreve no blog RealClimate, uma das referências da ciência climática. É um dos cientistas do IPCC, o painel climático da ONU
ENTREVISTA - MICHAEL MANN
ÉPOCA – Como o senhor se sentiu com a controvérsia dos e-mails vazados?
Michael Mann – Não há nada que ponha em xeque as mudanças climáticas causadas pelo homem. Aqueles que se opõem à ação contra o aquecimento global recorreram a essa campanha para criar confusão. O fato de terem usado essa tática já revela como estão desesperados. Eles perderam o debate científico. Agora, não têm outro recurso para desviar a atenção pública do problema.
Michael Mann – Não há nada que ponha em xeque as mudanças climáticas causadas pelo homem. Aqueles que se opõem à ação contra o aquecimento global recorreram a essa campanha para criar confusão. O fato de terem usado essa tática já revela como estão desesperados. Eles perderam o debate científico. Agora, não têm outro recurso para desviar a atenção pública do problema.
ÉPOCA – O senhor se sentiu injustiçado?
Mann – As pessoas mais importantes para mim, meus colegas cientistas, conseguiram enxergar que havia uma armação por trás das denúncias. E que o objetivo era atacar a ciência e os próprios cientistas. Infelizmente, quem montou essa operação conseguiu trabalhar com eficiência a opinião pública. Isso é triste, porque as evidências científicas nunca foram tão fortes em relação ao aquecimento. É interessante que meus primeiros trabalhos, que mostravam as variações climáticas naturais, como El Niño, foram bem recebidos pelos céticos das mudanças climáticas. Quando minhas pesquisas começaram a mostrar um aquecimento estranho, que pode ser efeito da atividade humana, aí sim eles me atacaram.
Mann – As pessoas mais importantes para mim, meus colegas cientistas, conseguiram enxergar que havia uma armação por trás das denúncias. E que o objetivo era atacar a ciência e os próprios cientistas. Infelizmente, quem montou essa operação conseguiu trabalhar com eficiência a opinião pública. Isso é triste, porque as evidências científicas nunca foram tão fortes em relação ao aquecimento. É interessante que meus primeiros trabalhos, que mostravam as variações climáticas naturais, como El Niño, foram bem recebidos pelos céticos das mudanças climáticas. Quando minhas pesquisas começaram a mostrar um aquecimento estranho, que pode ser efeito da atividade humana, aí sim eles me atacaram.
ÉPOCA – O senhor tem alguma pista de quem fez os ataques?
Mann – Não sei quem foi o criminoso que invadiu os computadores (da Universidade de East Anglia) no Reino Unido. Mas muitos grupos de lobby contra o aquecimento promoveram a história antes de ela chegar à mídia, algo suspeito. Parece que eles sabiam antes de o fato vir a público. Um dos primeiros foi o National Center for Policy Analysis (Centro Nacional para Análise Política), uma entidade financiada pela empresa de petróleo Exxon Mobil. Muitos desses grupos são patrocinados pela Exxon e pela Scafe Foundation, que representa interesses da indústria petrolífera nos Estados Unidos.
Mann – Não sei quem foi o criminoso que invadiu os computadores (da Universidade de East Anglia) no Reino Unido. Mas muitos grupos de lobby contra o aquecimento promoveram a história antes de ela chegar à mídia, algo suspeito. Parece que eles sabiam antes de o fato vir a público. Um dos primeiros foi o National Center for Policy Analysis (Centro Nacional para Análise Política), uma entidade financiada pela empresa de petróleo Exxon Mobil. Muitos desses grupos são patrocinados pela Exxon e pela Scafe Foundation, que representa interesses da indústria petrolífera nos Estados Unidos.
ÉPOCA – O que mudou quando o senhor foi inocentado pela investigação da Universidade do Estado da Pensilvânia?
Mann – Tinha confiança de que qualquer revisão imparcial chegaria a essa conclusão. Mesmo assim, houve lobby da indústria de combustíveis fósseis e de negadores profissionais do aquecimento global para que se criasse uma inquisição aos pesquisadores do clima. O senador (republicano) James Inhofe, de Oklahoma, tem afirmado que os cientistas americanos ligados ao IPCC devem ser submetidos a uma investigação criminal, até Susan Solomon (da Agência Nacional de Oceanos e Atmosfera, a Noaa), coordenadora do painel nos Estados Unidos. Muitos aqui estão comparando essas ações ao macarthismo dos anos 60 (quando artistas americanos foram perseguidos por suposta ação comunista).
Mann – Tinha confiança de que qualquer revisão imparcial chegaria a essa conclusão. Mesmo assim, houve lobby da indústria de combustíveis fósseis e de negadores profissionais do aquecimento global para que se criasse uma inquisição aos pesquisadores do clima. O senador (republicano) James Inhofe, de Oklahoma, tem afirmado que os cientistas americanos ligados ao IPCC devem ser submetidos a uma investigação criminal, até Susan Solomon (da Agência Nacional de Oceanos e Atmosfera, a Noaa), coordenadora do painel nos Estados Unidos. Muitos aqui estão comparando essas ações ao macarthismo dos anos 60 (quando artistas americanos foram perseguidos por suposta ação comunista).
ÉPOCA – Dizem que havia um prêmio de US$ 12 milhões na universidade para quem pudesse apontar alguma fraude do senhor. É verdade?
Mann – Vários indivíduos usaram táticas desonestas para tentar sustentar as alegações de que as pesquisas foram distorcidas. No mundo legal, chamamos esse pessoal de limpa-fundo (peixe que se alimenta da sujeira do aquário). Eles buscam qualquer alegação, mesmo que falsa, para tentar faturar. É o que está acontecendo. Há gente vasculhando tudo para encontrar qualquer evidência contra os cientistas.
Mann – Vários indivíduos usaram táticas desonestas para tentar sustentar as alegações de que as pesquisas foram distorcidas. No mundo legal, chamamos esse pessoal de limpa-fundo (peixe que se alimenta da sujeira do aquário). Eles buscam qualquer alegação, mesmo que falsa, para tentar faturar. É o que está acontecendo. Há gente vasculhando tudo para encontrar qualquer evidência contra os cientistas.
ÉPOCA – Num dos e-mails investigados, o pesquisador Phil Jones, de East Anglia, diz que usou um “truque” (trick, em inglês) seu para chegar a um gráfico de temperatura. Que truque é esse?
Mann – Cientistas e matemáticos geralmente usam esse termo de uma forma inócua. No jargão científico, significa apenas alguma maneira inteligente de obter um resultado. O desonesto desses ataques é que quem vazou os e-mails sabia disso. Mas tentou dar a impressão de que havia algo errado ali para quem não está acostumado com o jargão. Um dos efeitos apavorantes desses ataques é que podem deixar os cientistas desconfortáveis ao usar e-mail. E o e-mail é a principal ferramenta para trocarmos informações.
Mann – Cientistas e matemáticos geralmente usam esse termo de uma forma inócua. No jargão científico, significa apenas alguma maneira inteligente de obter um resultado. O desonesto desses ataques é que quem vazou os e-mails sabia disso. Mas tentou dar a impressão de que havia algo errado ali para quem não está acostumado com o jargão. Um dos efeitos apavorantes desses ataques é que podem deixar os cientistas desconfortáveis ao usar e-mail. E o e-mail é a principal ferramenta para trocarmos informações.
ÉPOCA – O que os cientistas devem aprender com esse episódio?
Mann – O objetivo dos ataques é inibir pesquisadores que trabalham em áreas em que os estudos ameaçam direitos adquiridos. Já vimos isso com pesquisas da evolução humana ou dos farmacêuticos. Nos anos 70 e 80, a indústria do tabaco usou táticas parecidas para intimidar os pesquisadores que relacionavam o fumo com o câncer. Torço para que os ataques tenham o efeito contrário. Para que os cientistas defendam seus valores de busca pelo conhecimento.
Mann – O objetivo dos ataques é inibir pesquisadores que trabalham em áreas em que os estudos ameaçam direitos adquiridos. Já vimos isso com pesquisas da evolução humana ou dos farmacêuticos. Nos anos 70 e 80, a indústria do tabaco usou táticas parecidas para intimidar os pesquisadores que relacionavam o fumo com o câncer. Torço para que os ataques tenham o efeito contrário. Para que os cientistas defendam seus valores de busca pelo conhecimento.
ÉPOCA – Como essa crise poderá afetar as negociações de um tratado internacional do clima?
Mann – Não sei. Os ataques foram planejados para sabotar a cúpula de Copenhague (reunião da ONU em dezembro do ano passado). Não creio que tenham surtido esse efeito. Os impasses em Copenhague foram causados mais pela natureza complexa da negociação que pela falta de certeza sobre o aquecimento global. Mas temo que os ataques ofereçam um pretexto a quem quer adiar as medidas necessárias para reduzir as emissões poluentes.
Mann – Não sei. Os ataques foram planejados para sabotar a cúpula de Copenhague (reunião da ONU em dezembro do ano passado). Não creio que tenham surtido esse efeito. Os impasses em Copenhague foram causados mais pela natureza complexa da negociação que pela falta de certeza sobre o aquecimento global. Mas temo que os ataques ofereçam um pretexto a quem quer adiar as medidas necessárias para reduzir as emissões poluentes.
ÉPOCA – O senhor usou seu blog, um dos mais respeitados na área do clima, para se defender?
Mann – Você botou o dedo na ferida. Vários colegas nos Estados Unidos têm feito esforços para se comunicar com o grande público. Mas ainda não é o suficiente. Somos muito poucos. Temos certeza de que as mudanças climáticas são causadas pela ação humana. E que, se não as controlarmos, as consequências serão dramáticas. É isso que diz o IPCC.
Mann – Você botou o dedo na ferida. Vários colegas nos Estados Unidos têm feito esforços para se comunicar com o grande público. Mas ainda não é o suficiente. Somos muito poucos. Temos certeza de que as mudanças climáticas são causadas pela ação humana. E que, se não as controlarmos, as consequências serão dramáticas. É isso que diz o IPCC.
ÉPOCA – O problema é que o IPCC também está em xeque agora.
Mann – Se você for realista, é um relatório com milhares de páginas. Aí você encontra apenas um erro e transforma isso em uma tempestade, como se comprometesse a credibilidade de todo o relatório. Estamos exigindo um grau de perfeição que não existe em nenhum grande levantamento do tipo. Não estamos nem debatendo se as geleiras do Himalaia estão ou não derretendo. Mas a velocidade disso. Era apenas um dos milhares de dados colhidos pelo IPCC. Essa conclusão não chegou ao relatório final, nem ao sumário executivo, nem ao sumário técnico, que servem de orientação para políticas públicas. É como se você abrisse o manual de funcionamento de seu carro e descobrisse um erro de impressão na página 53. Você vai desconfiar que o carro não funciona direito por causa disso? Vai deixar de dirigi-lo? É triste porque o relatório do IPCC continua sendo rigoroso e confiável em suas principais conclusões.
Mann – Se você for realista, é um relatório com milhares de páginas. Aí você encontra apenas um erro e transforma isso em uma tempestade, como se comprometesse a credibilidade de todo o relatório. Estamos exigindo um grau de perfeição que não existe em nenhum grande levantamento do tipo. Não estamos nem debatendo se as geleiras do Himalaia estão ou não derretendo. Mas a velocidade disso. Era apenas um dos milhares de dados colhidos pelo IPCC. Essa conclusão não chegou ao relatório final, nem ao sumário executivo, nem ao sumário técnico, que servem de orientação para políticas públicas. É como se você abrisse o manual de funcionamento de seu carro e descobrisse um erro de impressão na página 53. Você vai desconfiar que o carro não funciona direito por causa disso? Vai deixar de dirigi-lo? É triste porque o relatório do IPCC continua sendo rigoroso e confiável em suas principais conclusões.
FONTE: Época (www.revistaepoca.globo.com)
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