quarta-feira, 7 de abril de 2010

RIO DE JANEIRO

O CAOS ANUNCIADO

Por Almiro Brzezinski

No final do ano passado, assistimos perplexos ao colapso das encostas cariocas , vitimando pessoas e deixando outras tantas desabrigadas e feridas. Mensalmente continuamos a ver as mesmas cenas de horror e os eventos se perfilam nos noticiários e jornais.

Somente nessa semana, os últimos acontecimentos já vitimaram mais de 100 pessoas e os dados tendem a aumentar à medida que as chuvas continuam. Por mais que estamos vindo de épocas de intenso El Niño e este provocando chuvas torrenciais em nossa região, devemos ter bem claro em nossas cabeças as causas destes desastres e suas consequências na sociedade.

A construção cada vez mais crescente de moradias em encostas é algo inadmissível para os dias atuais. Ainda mais, conhecendo os aspectos geológicos das regiões e a intensa modificação deste espaço, incluindo neste pacote, o voraz desmatamento e inação quanto a utilização costeira dos rios e demais fontes de água.

O descaso histórico da falta de políticas públicas eficazes para com a urbanização de nossas cidades são fatos relevantes para se pensar no momento. O Rio de Janeiro para por ter elegido governantes populistas uns atrás dos outros. Cuidar das infraestruturas, do planejamento urbano, da rede de esgotos e águas pluviais não dá votos. É obra enterrada, literalmente, escondida embaixo da terra. O que dá votos é carnaval, asfalto, estádio para o Pan e Jogos Olímpicos. Há um mês, o culpado pelas 70 mortes em 48 dias, em São Paulo, era o governo do Estado. No Rio, o culpado por 100 mortes em um dia é o próprio morto, que ocupava zona de risco.

O governo preocupa-se no máximo em "barrar" a população da periferia carioca através de muros, como o que está sendo construído nos morros cariocas com intuíto de evitar a expansão destes rumo a mata atlântica. Como se as comunidades carentes fossem os responsáveis por contarmos hoje com menos de 10% deste bioma tão tradicional e vital para o desenvolvimento de nosso sistema. Quando a questão envolve obras do PAC, grandes condomínios luxuosos, estas premissas são esquecidas e jogadas no bueiro (opa...cuidado, este pode não ter o tratamento adequado).


Do modo como escrevemos, até parece fácil após todos estes desastres. Mas isso deve vir à tona e discutido, pois este é o mesmo Rio de Janeiro que pleiteia quase a totalidade dos royalties do petróleo brasileiro em detrimento de toda uma nação. Chega ser excêntrico certas atitudes de políticos, artistas e autoridades cariocas em manifestações e entrevistas pró-royalties. A pergunta que fica é a seguinte: onde vai parar o dinheiro do petróleo que o Rio de Janeiro ganha da nação a décadas? Provavelmente serve para pagar a folha do funcionalismo público como veio à tona estes dias, sendo que a constituição preconiza que os mesmos recursos devem ser gastos com
investimentos.

É para isso que servem os
royalties? Para continuar a bancar um estado movido pelo carnaval e turismo, agora ainda mais acentuado pela Copa 2014 e Olimpíadas de 2016? E como ficam as populações da periferia, das comunidades carentes? Onde estes estarão quando as milionárias seleções e delegações pisarem os gramados e quadras cariocas?

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